054: O QUADRINHO BRASILEIRO É
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Até uma hora atrás, a newsletter de hoje ia ser bem diferente. Mas esta sexta-feira teve uma concentração tão grande e inesperada de acontecimentos, acontecimentos que eu precisava registrar aqui hoje, que a nius ficou encavalada. Então resolvi deixar o texto principal - prontinho, bonitinho, com todas as imagens - para a semana que vem. É um texto não tem pressa e ia ficar perdido no meio de tanta coisa.
E semana que vem eu não ia conseguir escrever nada mesmo. Já explico por quê.
O primeiro acontecimento. Hoje foi lançado isto:
É o CATÁLOGO HQ BRASIL, versão atualizada, em inglês e francês. BRAZIL COMICS CATALOGUE/CATALOGUE BD BRÉSIL, se você prefere.
É um apresentação de cem grandes quadrinhos brasileiros dos últimos dez anos (2014-2024) pensada para os gringos. Com imagens, descrição, fichinha técnica.
Eu fui o editor convidado, em colaboração com a Bienal de Quadrinhos de Curitiba e o Ministério das Relações Exteriores, dentro do programa Brasil em Quadrinhos. Na mesma parceria, já editei outras três versões do Catálogo, em português (para Portugal), espanhol e numa primeira versão em inglês/francês.
A nova versão, atualizada, completa, bonitinha e cheirosa está aqui: https://bit.ly/catalogohqbr4 (atenção: 30MB)
Em função do meu trabalho neste Catálogo, no próximo fim de semana estarei em Montevidéu, na Montevideo Comics, para pegar autógrafos do Paco Roca para apresentar o quadrinho brasileiro:
Tem toda a programação da Montevideo Comics 2024 aqui.
E é por isso que, na semana que vem, eu não sei se consigo escrever uma cartinha nova. Mas, porém, contudo, todavia, já tenho um texto pronto. E ele já está programado para chegar no seu e-mail na sexta-feira que vem. Isso nunca acontece. Estou me sentindo superorganizado.
Só uma última coisa sobre esse assunto: o quadrinho brasileiro é foda!
Hoje, 6 de setembro, também é a data da morte de Alex Raymond - o desenhista criador de Flash Gordon, Agente Secreto X-9 e Rip Kirby. Neste dia, em 1956, Raymond estava na direção de um Corvette que o colega Stan Drake tinha acabado de comprar. Raymond era maníaco por carros, quis testar o do amigo. Perdeu o controle e bateu em um muro a 80 km/h. Drake, na carona, saiu vivo. Raymond morreu aos 46 anos.
É a data escolhida pela Go!!! Comics para lançar a campanha de A ESTRANHA MORTE DE ALEX RAYMOND, a investigação de Dave Sim e Carson Grubaugh sobre o que aconteceu neste dia, há 68 anos.
Uma investigação metafísica, porque Sim acredita que a morte de Raymond teve relação com maracutaias místicas, o jeito como ele segurava o pincel e a Margaret Mitchell, a autora de E O VENTO LEVOU.
Não estou brincando.
É um dos maiores desafios de tradução que eu já encarei e uma das maiores demonstrações de virtuose no nanquim que eu já vi. Sendo que tudo começou porque Dave Sim resolveu que queria desenhar como Raymond e contemporâneos. O fim é trágico para todos os lados.
Para apoiar a campanha, é só entrar aqui.
Nas primeiras 72 horas - até domingo! - dá para adquirir com um valor especial:
Li A ESTRANHA MORTE há uns dois anos e nunca imaginei que fosse ser lançado no Brasil. Eu ter traduzido e estar anunciando aqui é a parte mais bizarra dessa história. Leia.
Quando se fala em “quadrinho experimental”, parece que eu vejo a nuvem que sai dos cachimbos acadêmicos, gente calva de óculos e barba discutindo as qualidades e brilhantismos de uma coisa que quase ninguém entende. Tem quadrinhos assim, e tudo bem.
Mas tem quadrinhos que são experimentais pra quem não fuma cachimbo e só quer ler uma boa sacada formal, metalinguística, que inova a linguagem poética da HQ. Só pra dar aquele estalo: “Rá! Boa!”
QUADRADINHAS, do Lucas Gehre, é as duas coisas. Você pode ler com seu cachimbo ou sem. E vai ter bons estalos do mesmo jeito.
Tenho os dois primeiros volumes de QUADRADINHAS do Lucas. A campanha para o terceiro está no Catarse nesse momento. Acompanho todos que ele lançar.
Já chamei a Helô D’Angelo de “maior operária do quadrinho no Brasil”. Foi aqui, nessa entrevista para a Funktoon, no ano passado. Ela continua carregando os sacos de cimento, apertando os parafusos e girando as máquinas do quadrinho brasileiro. Já li uns dois livros dela depois daquela entrevista. Agora tem mais um.
Que ela não fez sozinha, mas com o namorado Daniel Cesart - que eu descobri há pouco tempo, em ESTADOS UNIDOS DA ÁFRICA (indicado a três HQ Mix esta semana). E é um quadrinho justamente sobre o namoro de Helô e Daniel. Chama-se CUSCUZ SURPRESA.
Que é um namoro à distância - ele mora em Salvador, ela mora em São Paulo. E que é um namoro entre idiomas.
E que também é um namoro em quadrinhos. Faço votos de muitas páginas codesenhadas para esse Robert & Aline do Brasil.
CUSCUZ SURPRESA está no Catarse.
Esta semana, entreguei aquela tradução do Conan que estava perto de completar três meses na minha agenda e na minha cabeça. Graças a Crom, vou tirar férias da Era Hiboriana.
Também entreguei o PROJETO DADAAB, que levou 30 dias cravado. Duzentos e sessenta páginas. Foi puxado.
Fiz um bom avanço no PROJETO TESLA: 350 páginas da primeira revisão, que está completa.
Comecei PROJETO OCEANO, que é uma tradução do francês - para mudar um pouquinho de ares.
E recebi a notícia de que um livro que comentei na newsletter vai virar um futuro projeto de tradução. Parece que essa nius também tem sua magia.
Esta semana, só colaborei com o Lançamentos da Semana do 2Quadrinhos:
E no domingo saiu a entrevista do Notas dos Tradutores com Marina Della Valle, a tradutora de JERUSALÉM, de Alan Moore. Marina fala tanto quanto o sr. Moore escreve, e os dois compartilham uma coincidência cósmica que a gente comentou no final. Escute aqui.
Os links abaixo são de trabalhos meus que foram lançados há pouco tempo ou serão lançados em breve. Comprar pelos links da Amazon me rende uns caraminguás. Se puder, use os links. As datas podem mudar a qualquer momento e eu não tenho nada a ver com isso.
em setembro
PONTOS FRACOS, Adrian Tomine, nemo
O ABOMINÁVEL SR. SEABROOK, Joe Ollmann, quadrinhos na cia.
SENHOR DAS MOSCAS, Aimée de Jongh (baseado no livro de William Golding), suma
KULL: A ERA CLÁSSICA vol. 2, Roy Thomas, Don Glut, Gerry Conway, John Severin, Marie Severin e outros, panini
CONAN, O BÁRBARO 4, Jim Zub, Doug Braithwaite e outros, panini
CONAN, O BÁRBARO 5, Jim Zub e Roberto de la Torre, panini
STRANGER THINGS E DUNGEONS & DRAGONS, Jody Houser, Jim Zub, Diego Galindo e Msassyk, panini
A ESPADA SELVAGEM DE CONAN 1, John Arcudi, Max von Fafner, Jim Zub, Patrick Zircher, Robert E. Howard, Roy Thomas, panini
LÚCIFER - EDIÇÃO DE LUXO vol. 4, Mike Carey, Ryan Kelly, P. Craig Russell, Marc Hempel, Ronald Wimberly e outros, panini
OS INVISÍVEIS EDIÇÃO DE LUXO vol. 2, Grant Morrison, Steve Yeowell, Steve Parkhouse e vários, panini
CONAN, O BÁRBARO: A ERA CLÁSSICA vol. 8, James Owsley, Val Semeiks, Geof Isherwood e outros, panini
MOONSHADOW, J.M. DeMatteis, Jon J. Muth, pipoca & nanquim [reimpressão]
ZDM - EDIÇÃO DE LUXO vol. 2, Brian Wood, Kristian Donaldson, Nathan Fox, Riccardo Burchielli, Viktor Kalvachev, panini (traduzi metade das HQs e os extras)
em outubro
MINHA COISA FAVORITA É MONSTRO - LIVRO 2, Emil Ferris, quadrinhos na cia.
LOBO OMNIBUS VOL. 1, Keith Giffen, Alan Grant, Val Semeiks, Martin Emond e outros, panini [traduzi um terço do omnibus]
OS INVISÍVEIS EDIÇÃO DE LUXO vol. 3, Grant Morrison, Phil Jimenez e vários, panini
Uns anos atrás, traduzi ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE, o clássico da Agatha Christie. Quando apareceu uma nova adaptação para os quadrinhos, precisavam de um tradutor de quadrinhos, e aí… Os dois livros se encontraram semana passada.
ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE, prosa [amazon]
ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE, graphic novel [amazon]
em novembro
GRANT MORRISON E A HISTÓRIA, de Mario Marcello Neto, Felipe Radünz Krüger, Artur Lopes Filho e Márcio dos Santos Rodrigues (orgs.), Dokan Editora - escrevi a introdução
CONAN, O BÁRBARO 6, Jim Zub e Roberto de la Torre, panini
A ESPADA SELVAGEM DE CONAN 2, Jim Zub, Richard Case, Patrick Zircher, panini
em janeiro
A ESTRANHA MORTE DE ALEX RAYMOND, Dave Sim e Carson Grubaugh, go!!! comics
vem aí
HOW TO e WHAT IF 2, Randall Munroe, companhia das letras
KRAZY & IGNATZ VOL. 2: 1919-1921, George Herriman, skript
SAPIENS VOL. 3, David Vandermeulen e Daniel Casanave, quadrinhos na cia.
COMIC BOOKS INCORPORATED, Shawna Kidman
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS e ATRAVÉS DO ESPELHO, Lewis Carroll
FEEDING GHOSTS, Tessa Hulls, quadrinhos na cia.
mais BONE de Jeff Smith (e amigos), todavia
+ Adrian Tomine
+ Tom Gauld
+ Dan Clowes
+ Shaun Tan
+ Will Eisner
+ Gato Pete
+ Mike Birchall
+ Lore Olympus
+ Projeto Camalote
+ Projeto Tylenol
+ Projeto Fritas
+ Projeto Baleial
+ Projeto Kitty
+ Projeto Sopa
+ Projeto Dadaab
+ Conan
Todas as minhas traduções: ericoassis.com.br
Marc-Antoine Mathieu, DEEP ME. Esse sim é daqueles quadrinhos pra discutir fumando cachimbo. [amazon]
Rafael Coutinho na BRABA. Porque eu li de novo essa semana e resolvi que ele é o melhor desenhista do Brasil. [amazon]
Estava sentado na minha sala e um homem passou pela porta, olhando fixo para a parede atrás de mim, para um ponto logo acima da minha cabeça. Eu nunca tinha visto aquele homem, mas conhecia o rosto. Era Jean Giraud, vulgo Moebius, de olho em um desenho da Mulher-Maravilha por José Luis García-López.
Sem me dar bola, ele veio entrando na minha sala, chegou atrás da minha mesa e ficou cara a cara com o desenho. Baixou os óculos para olhar melhor. Mais um instante e ele se virou para mim.
“Esse García-López”, ele perguntou, com forte sotaque francês. “Ele usa modelos, não?”
“Não”, eu respondi. Sorri.
“Filho da puta!”, Moebius rosnou.
Ele não tinha que dizer mais nada. Eu sabia que era o maior elogio que um artista pode fazer a outro.
— Andrew Helfer
Li aqui, antes de o Twitter fechar.
José Luis García-López
Moebius
Saudades, Twitter. Vi aqui.
Li ontem sobre a morte de Bernie Mireault. Era um quadrinista da cena underground do Canadá, pouco conhecido. Nem chegou a pegar o bonde das graphic novels. Sua principal criação é esse personagem que virou série, THE JAM. Acho que não saiu nada dele no Brasil, fora alguns trabalhos como colorista da DC e de Grendel.
Tinha 63 anos. Entrou pra uma lista muito lamentável na história dos quadrinhos. Alerta de gatilho para o resto.
Segundo os informes, Mireault se suicidou. Em parte, porque estava na miséria e sem qualquer perspectiva. Paul Levitz comparou à morte de Wally Wood, que se matou ainda mais novo. Não foram os únicos autores de quadrinhos que morreram na pobreza.
Nat Gertler, que publicou o último gibi de Mireault, escreveu uma coisa importante depois de saber da morte:
"Quadrinhos são uma grande arte e um mercado cruel. Para vocês aí que se consideram fãs, principalmente de autores esquisitos, fora da curva, a melhor coisa que você pode fazer é apoiar esse autor. Não só comprando, mas sendo gentil com o que você diz e divulgando o trabalho da pessoa. O mundo está cheio de gente talentosa que ama os quadrinhos mais do que os quadrinhos os amam."
Apoie os autores e autoras de quem você gosta.
Meu nome é Érico Assis. Sou jornalista e tradutor. Escrevo profissionalmente sobre quadrinhos desde 2000, traduzo profissionalmente desde 2009. Sou um dos criadores do podcast Notas dos Tradutores, colaboro com o canal de YouTube 2Quadrinhos e com o programa Brasil em Quadrinhos do Ministério das Relações Exteriores. Dou cursos de tradução na LabPub.
Publiquei dois livros: BALÕES DE PENSAMENTO 1 e 2, disponíveis em formato digital e físico na Amazon.
Tem mais informações no meu website ericoassis.com.br.
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Érico (ou alguém mais), eu costumo ler a newsletter no mesmo celular em que faço transações bancárias. Tem alguma forma de usar o QR Code sem ter que escaneá-lo? E caso não tenha jeito, rola de passar a chave PIX por aqui ou inbox? (Sou meio enrolado com assinaturas, então decidi pagar por newsletter lida, hehehe)