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028: QUANDO EU TRADUZI DUNA

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espécia | minha semana | capitalismo | páginas viradas

mar 08, 2024
∙ Pago
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028: QUANDO EU TRADUZI DUNA
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Meu maior medo como tradutor são os livros em que os autores inventam línguas. Palavras novas, expressões diferentes, costumes alienígenas, futurísticos ou fantasiosos que só existem naquele livro. O tal do world-building: “neste mundo pós-Fleuma, os borochtes vivem em submoradafitas e travam escruts diárias para botar o protopanis na virtumesa”. Os autores se sentem divindade criadora de seu universo, os leitores se distraem com uma camada de pseudo-complexidade, o tradutor gasta dias montando um glossário e nunca será pago por esses dias a mais. Fujo destes livros. Não só como tradutor; às vezes, como leitor.

Aí chegou o dia em que eu fui convidado a traduzir um dos Pais Fundadores desses construtores de mundos e de glossários: DUNA, de Frank Herbert. E não consegui dizer não.

Fora o tamanho do bicho - mais de 500 páginas - o que me assustava mesmo eram os neologismos, a invencionice. Eu já sabia que teria que construir um glossário e que isso ia me tomar dias de sofrimento até que cada termo se encaixasse no contexto, nos pontos de contato com línguas reais, até fazer sentido dentro da gramática inventada, que o leitor fosse entender no nível de entendimento/identificação que o autor queria e até eu sentir alguma segurança com cada escolha.

Mas eu estava sendo convidado para traduzir a série DUNA, então montar o glossário de um livro serviria ao menos de base para outros cinco livros (pelo menos). O principal motivo para não negar era esse: seis livros parrudos era garantia de trabalho por alguns anos. Garantias de trabalho pelo longo prazo são como água em Arrakis na vida do tradutor free-lancer.

Então eu traduzi DUNA. E fiz meu Glossário-Duna, que terminou com mais de 300 termos.

Que eu só usei no primeiro livro, porque a série não rolou. Passei cinco meses naquelas 500+ páginas e naquele glossário. E você nunca vai ler minha tradução de DUNA.

Antes de traduzir, eu nunca havia lido DUNA. Nem assistido ao filme dos anos oitenta. Joguei o joguinho de computador dos anos 1990 e sabia da trama, bem por cima. Fui convidado a traduzir por que o primeiro filme do Villeneuve estava com data de estreia marcada.

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