030: O IMPÉRIO DO PAPEL RUIM
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“Apesar de suas forças armadas sustentadas pelo armamento mais potente da história, os legisladores dos Estados Unidos estavam preocupados que um produto cultural – mesmo o modesto gibi – podia demolir seu empenho de promoção da democracia e do capitalismo, à moda estadunidense, mundo afora.”
Este era um lado da gangorra. O outro estava na declaração de um integrante do Writers’ War Board, comitê federal de especialistas que precisavam vender a Segunda Guerra Mundial a corações e mentes nos EUA:
“Acreditamos que é possível tratar de vários assuntos [nos quadrinhos] aproveitando o poder que eles têm, sem interferir no seu potencial de divertimento.”
No fim da primeira metade do século 20, o governo dos Estados Unidos ficou numa gangorra entre usar o gibi como ferramenta de propaganda e repudiar o gibi quando ele podia prejudicar a política externa. Esse é o tema central de PULP EMPIRE: THE SECRET HISTORY OF COMIC BOOK IMPERIALISM [Império do papel ruim: a história secreta do imperialismo via gibi], de Paul S. Hirsch.
O período que Hirsch cobre é relativamente curto: vai de meados dos anos 1930 até o início dos anos 1960. Antes disso, não existia mercado de gibis nos EUA – o comic book, a típica revista em quadrinhos de lá, impressa em papelzinho fuleiro, surgiu em 1933. Depois de 1960, começou a era do super-herói certinho, branquinho e pasteurizado como motor do mercado. No meio desse período houve uma guerra.
A Segunda Guerra Mundial é o ponto focal do livro. Durante o conflito, especialistas em comunicação do governo norte-americano apoiaram as revistinhas de forma estatégica. Gibis que fizessem um retrato positivo das forças militares recebiam orientações para fazer mais e ganhavam apoio financeiro – o governo comprava tiragens para distribuir entre os soldados, por exemplo. Se fizessem um retrato negativo do inimigo, como alemães, italiano e japoneses, melhor ainda.
O autor defende que o mercado de quadrinhos dos EUA só cresceu e virou o “colosso” que se tornou com essa injeção de dinheiro federal, sobretudo no início dos anos 1940.
Por que quadrinhos? Porque eram um dos grandes meios de comunicação de massa, se não o maior. Naquela época pré-televisão, eles vendiam aos milhões. Estavam na mão de tudo que é criança e adolescente, inclusive dos recrutas despachados para a guerra. Tinham mais figurinhas do que texto. Envolviam o leitor e a leitora com personagens, cores, ação. E você podia enrolar o gibi e carregar no bolso. Eram “leves, compactos e fáceis de esconder”, como Hirsch escreve.
Mais: “O que críticos como [Fredric] Wertham viam como peculiaridade perigosa – ‘leitores de gibi são prejudicados na construção do vocabulário porque a ênfase está na imagem visual e na palavra propriamente dita’ – se tornaram, nas mãos dos propagandistas, um atributo positivo. Em essência, as imagens deixavam a propaganda mais palatável.”
Ou: “Os gibis conseguiam decompor um assunto complicado numa combinação inteligível de texto elementar e imagens com figuras queridas. As complexidades da física e da política externa intimidavam menos quando descompactadas em cenas sequenciais.”
E já volto a falar do Wertham.
PULP EMPIRE também mostra que, mesmo quando o governo não tinha envolvimento direto, orientando temas ou dando grana para que as editoras encaixassem propaganda nacionalista nas HQs, os gibis queriam mostrar serviço à nação. O resultado nem sempre foi bonito.
Os gibis que defenderam e promoveram a energia nuclear foram um exemplo. Hirsch coleta vários quadrinhos que mostram super-heróis movidos pelo poder do átomo ainda nos anos 1940, antes dos heróis da DC e da Marvel que ganham poderes com acidentes da ciência. Quase nenhum desses teve apoio federal.
O pior exemplo é “A bomba atômica do Pato Donald”, infame quadrinho de Carl Barks que foi vendido inicialmente numa promoção dos cereais Cheerios, da General Mills. Na trama, Donald vira o Oppenheimer de Patópolis, explode a bomba sem querer e, em seguida, enxerga uma oportunidade: vende um tônico especial para os patopolenses recuperarem o cabelo. Porque, haha, todos pegaram câncer.
Foi publicado em 1947, depois de Hiroxima e Nagasaki, depois de John Hershey publicar sua reportagem devastadora sobre o Japão pós-bomba na New Yorker. Hirsch escreve: “é impossível que alguém da Disney ou da General Mills tenha lido o gibi antes de mandar para os leitores.” Saiu no Brasil no mesmo ano, pela Ebal, e já teve uma e outra republicação.
PULP EMPIRE também se junta a um pequeno contingente da historiografia dos quadrinhos que admite que Fredric Wertham Estava, Quem Sabe, Um Tantinho Certo.
Wertham (1895-1981) é pintado como demônio por muitos historiadores por ser a figura-chave na campanha contra os quadrinhos que derrubou o mercado nos anos 1950 – que reverberou no Brasil e outros países. O psiquiatra falou e escreveu muita besteira sobre super-heróis, além de manipular dados para dizer que gibis faziam moleques roubarem e matarem. Não ajudou ele ser um alemão com cara e nome de cientista louco.
Mas Wertham tinha preocupações bem legítimas quanto ao racismo e à misoginia que apareciam nos gibis ruins da época. Se na Segunda Guerra o governo batia palmas quando um alemão de gibi era tratado como miolo mole ou um japonês de gibi era o dentuço de pele amarelada, esses estereótipos perderam a função estratégica quando a guerra acabou. Os quadrinhos, porém, seguiram nessa toada com krauts, japs e outras etnias e nacionalidades retratadas pelo estereótipo mais vil. Pululavam selvagens africanos, chinks, gângsters carcamanos e latinos ladrões.
Fora o preconceito escancarado, Wertham alertou que esse tipo de representação nos gibis prejudicava a política externa dos Estados Unidos. Afinal, esses gibis chegavam a outros países bem no momento em que os EUA se afirmavam como superpotência amiga do mundo.
Wertham foi ouvido pelo governo, que sentou do outro lado da gangorra e entrou na campanha contra os gibis.
Hirsch defende que uma das motivações para as famosas audiências no Senado dos EUA sobre os quadrinhos, em 1954, foi essa preocupação com a imagem de país racista e intolerante que os gibis passavam. Ele escreve: “Enquanto o governo federal embarcava na longa campanha para promover a cultura norte-americana no exterior, os gibis eram uma vergonha inoportuna que lembrava o lado mais sinistro da sociedade estadunidense.”
A historiografia de quadrinhos gosta de pintar como esse movimento antigibi dos anos 1950 acabou com a EC Comics, editora que era até bem esclarecida e progressista – chegou até a publicar material inegavelmente antirracista. O que fica de fora é a legião de concorrentes da EC, que não tinham o mesmo critério elevado e que, talvez para o bem, também foram expurgadas pela perseguição aos quadrinhos.
O governo norte-americano chegou a financiar uma editora, a Commercial Comics de Malcolm Ater, a produzir quadrinhos para distribuição não só no próprio país, mas no exterior. (Antes de virar cliente do governo, Ater produziu quadrinhos contra o movimento negro por encomenda dos estados segregacionistas no sul dos EUA.)
Em 1951, o governo Truman investiu malas de dinheiro - tem inclusive uma história esquisita, talvez apócrifa, da CIA entregando uma maleta milionária a Ater - para a Commercial rodar um milhão de exemplares de THE FREE WORLD SPEAKS, um libelo anticomunista que denunciava a ameaça soviética. Era o início da Guerra Fria. Saiu em treze idiomas
Nessa época, quadrinhos eram vistos como material de propaganda bom para povos “sem sofisticação”, como os da América Latina e do sudeste asiático. Se usassem a mesma estratégia na Europa, “as elites poderiam atacar os Estados Unidos por distribuir cartum às massas.”
Há muitas menções a quadrinhos produzidos em espanhol para distribuição na América Latina, sobretudo de propaganda contra Cuba e Fidel Castro no fim dos anos 1950.
O livro faz uma menção ao Brasil, onde “gibis com propaganda eram encartados em exemplares de revista de detetive e distribuídos a efetivos militares e estudantes”. Cita, em nota, A PUNHALADA. Essa dissertação de Vicente Gil da Silva mostra alguns trechos de A PUNHALADA, que foi distribuída no Brasil pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais - o think tank que muito fez pelo Golpe de 1964.
Hirsch encerra o livro nos anos 1960, defendendo que o herói Marvel daquela década representou tudo que o governo dos Estados Unidos podia querer em termos de imagem do país para o mundo. E que a Marvel não precisou de apoio direto do governo para chegar ali, pois já era reflexo dessa gangorra entre apoio e repúdio, fomento e afastamento, de dizer o que gosta e o que não gosta nos gibis. Ou seja, de tudo que as agências federais haviam feito com o gibi em duas décadas e meia.
Quase cinquenta anos depois, o sucesso da Marvel no cinema mundial só colaborou para levar o triunfalismo estadunidense mundo afora.
“Os personagens destes filmes de bilhões representam os Estados Unidos no mundo, e os filmes servem para moldar o entendimento internacional quanto aos temores do país, suas metas políticas e a imagem que os Estados Unidos têm de si. Ao mesmo tempo, estes personagens e filmes dão pistas de como os EUA percebem o resto do mundo. Embora hoje cheguem em película e não em papel chinfrim, as narrativas de gibi continuam sendo um meio de comunicação imperial e político.”
Essa semana fui devastado pela leitura antecipada, em pdf, de A ESTRADA. É a adaptação do livro de Cormac McCarthy por Manu Larcenet, que vai ter lançamento quase simultâneo na França e no Brasil.
Não recomendo. Quer dizer, não recomendo ler do jeito que eu li. É aquele quadrinho que tem que ser lido com as páginas abertas, gigantes, aproveitando tudo dos 44 x 29 cm. Não é de se ler numa tela.
Li o livro de McCarthy há muitos anos e saí tal como no quadrinho: arrasado. Tanto quanto o mundo pós-apocalíptico que ele descreve, o que pesa no texto de McCarthy é a narração à moda do Antigo Testamento, como se fosse Deus te julgando por ter deixado/estar deixando o mundo daquele jeito.
Larcenet não narra nada com as palavras de McCarthy – só usa os diálogos. A narração fica exclusivamente por conta do desenho, que te afunda no mundo cinza, desgraçado e sujo, extremamente sujo, no qual pai e filho seguem A Estrada para chegar Ao Sul.
Lembra gravuras de Goya, se Goya desenhasse com dor de barriga no dia em que fez treino de perna.
Ainda quero escrever mais sobre A ESTRADA de Larcenet. Ainda quero ler o quadrinho direito, na forma em que foi feito para ser lido: grandão e no papel. Mas quero falar de uma decisão.
O quadrinho é quase em preto e branco, com cores que entram como se pedissem desculpa. Um amarelo ocre aqui, um vermelho fraco ali. Mas tem momentos em que pai e filho encontram embalagens – de fósforos, de uma lata de refrigerante – e elas têm um vermelho mais claro, um azul mais intenso. Ainda são cores esmaecidas, pois a atmosfera esta detonada e nem a luz do sol é o que era. Mas são cores comerciais, publicitárias, o capital bem apresentável no meio da desolação.
Não lembro se McCarthy faz alguma coisa parecida no livro. No quadrinho de Larcenet, parece que essas cores bonitas apontam o dedo pra você e dizem: foi isso que acabou com o mundo. É isso que está acabando com o planeta.
A edição brasileira é da Pipoca & Nanquim, com tradução de Fernando Paz, e sai no final de abril.
Esta semana foi devorada por um dia sem internet, resultado de um temporal na madrugada. Foi só um dia, mas parece que atrapalhou a semana inteira, até retroativamente. A cada temporal desses eu acho que estamos mais perto de A ESTRADA.
(Aliás, tive que ficar sem internet para descobrir que não são gnomos do meu computador que digitam quando eu uso o Ditar, a digitação por voz do Word. O Ditar depende de internet. Os gnomos estão nas nuvens.)
Teve um dia que rendeu, quando saíram 97 páginas do PROJETO MADDOC. Somando todos os outros dias, só saíram mais 105 páginas. Ainda não cheguei na metade.
Saíram mais 95 laudas do PROJETO CAMALOTE.
Bolei um vídeo para o 2Quadrinhos, chefe Vinicius aprovou e deve sair nas próximas semanas.
Primeira revisão do PROJETO BICHANOS2 pronta. Hoje faço a última revisão e entrego.
Saiu o Notas dos Tradutores sobre RAMIREZ TEM QUE MORRER, de Nicolas Petrimaux, traduzido pelo vetusto Mario Barroso. Íamos gravar mais um episódio esta semana, mas caiu bem no dia sem internet.
Também aconteceu isso:
Daqui. Jim Zub é o roteirista da série mais recente do CONAN e disse o seguinte: “O tradutor de Conan para o português entrou em contato para eu esclarecer umas palavras que usei no segundo arco. Gosto muito desse cuidado a mais para que a tradução funcione e fique consistente."
Fui eu. Mais ou menos.
A dúvida era minha. Era o nome de uma personagem, que talvez se explique em edições que ainda não saíram. Anotei a dúvida pro meu editor, o Diogo Prado, e o Diogo falou com o Zub. Simples e rápido.
Mas conversar com o autor que você está traduzindo é uma coisa muito, muito rara. Um dia conto mais causos aqui. São poucos.
A propósito, a dúvida era sobre uma personagem dessa edição, que sai em maio.
Os links abaixo são de trabalhos meus que foram lançados há pouco ou serão lançados em breve. Comprar pelos links da Amazon me rende uns caraminguás. Se puder, use os links.
As datas podem mudar a qualquer momento. Não tenho nada a ver com isso.
em março
CONAN, O BÁRBARO: A ERA CLÁSSICA VOL. 7, James Owsley, John Buscema, Val Semeiks e outros, panini
CONAN, O BÁRBARO 2, Jim Zub, Roberto de la Torre, panini
A BRIGADA DOS ENCAPOTADOS, K.W. Jeter, John K. Snyder III, Dave Louapre, Dan Sweetman, Alisa Kwitney, Guy Davis, John Ney Rieber, John Ridgway, panini
OS LIVROS DA MAGIA, Neil Gaiman, John Bolton, Scott Hampton, Charles Vess, Paul Johnson, panini [reedição]
ZDM: EDIÇÃO DE LUXO VOL. 1, Brian Wood, Riccardo Burchielli e outros, panini [só traduzi os extras]
em abril
LADRAS, Lucie Bryon, risco [tradução com Ilustralu]
ROAMING, Mariko Tamaki e Jillian Tamaki, nversos [tradução com Ilustralu]
SURFISTA PRATEADO: LIBERDADE [EPIC COLLECTION], Stan Lee, John Byrne, Steve Englehart, Marshall Rogers, Joe Rubinstein, Joe Staton, Jack Kirby e outros, panini
LÚCIFER: EDIÇÃO DE LUXO VOL. 3, Mike Carey, Peter Gross, Ryan Kelly, Dean Ormstron, Craig Hamilton, David Hahn, Ted Naifeh, panini
O UNIVERSO DE SANDMAN: PAÍS DOS PESADELOS vol. 2, James Tynion IV, Leandro Estherren, Patricia Delpeche, Maria Llovet, panini
VAMPIRO AMERICANO: EDIÇÃO DE LUXO VOL. 5, Scott Snyder, Rafael Albuquerque, Tula Lotay, Francesco Francavilla, panini
STRANGER THINGS: KAMCHATKA, Michael Moreci e Todor Hristov, panini
SANDMAN APRESENTA VOL. 10: BRUXARIA, James Robinson, Peter Snejbjerg, Michael Zulli, Steve Yeowell, panini
OS INVISÍVEIS EDIÇÃO DE LUXO vol. 1, Grant Morrison, Steve Yeowell, Steve Parkhouse e vários, panini
em maio
CONAN, O BÁRBARO 3, Jim Zub, Dale Eaglesham, vários, panini
Quando THE PRIVATE EYE inaugurou o Panel Syndicate, eu e o Fabiano Denardin mandamos uma mensagem para o administrador do site - e desenhista de PRIVATE EYE -, Marcos Martín, perguntando se podíamos traduzir o quadrinho para ele vender a versão em português junto. No Panel Syndicate, todos os quadrinhos são vendidos em formato digital pelo preço de quanto você quiser. Inclusive zero dinheiros.
Esta semana, essa história fez 11 anos. THE PRIVATE EYE continua lá - você escolhe a edição que quer comprar (até por zero dinheiros, repito) e baixa no idioma que quiser: inglês, espanhol, catalão ou português. Com “Special thanks to Érico Assis and Fabiano Denardin for the Portuguese translation”. Orgulho.
vem aí
LORE OLYMPUS VOL. 4, Rachel Smythe, suma
SHORTCOMINGS, Adrian Tomine, nemo
HOW TO e WHAT IF 2, Randall Munroe, companhia das letras
CHEW VOL. 4, John Layman e Rob Guillory, devir
KRAZY & IGNATZ VOL. 2: 1919-1921, George Herriman, skript
SENHOR DAS MOSCAS, Aimée de Jongh, suma
O ABOMINÁVEL SR. SEABROOK, Joe Ollmann, quadrinhos na cia.
SAPIENS VOL. 3, david vandermeulen e daniel casanave, quadrinhos na cia.
MINHA COISA FAVORITA É MONSTRO 2, Emil Ferris, quadrinhos na cia.
COMIC BOOKS INCORPORATED, Shawna Kidman
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS e ATRAVÉS DO ESPELHO, Lewis Carroll
mais BONE de Jeff Smith (e amigos), todavia
+ Adrian Tomine
+ Tom Gauld
+ Dan Clowes
+ Shaun Tan
+ Will Eisner
+ Agatha Christie
+ Guilherme Karsten
+ Oliver Jeffers
+ Mac Barnett
+ Gato Pete
Todas as minhas traduções: ericoassis.com.br
Para ler o final (ou a versão em inglês), clique aqui.
Spoiler: a autora usa o termo que eu quero usar com toda IA: hijos de puta. Ou motherfuckers.
“Go Back”, de Davis Brothers e Nick Dragotta, em NEWBURN n. 12. [kindle]
De WONDER WOMAN n. 4, por Tom King, Daniel Sampere, Tomeu Morey e Clayton Cowles. [kindle]
THE ENFIELD GANG MASSACRE n. 1, Chris Condon e Jacob Phillips. [kindle]
“Tem pessoas que dizem que não sabem ler quadrinhos, que os quadrinhos são rasos, que acabam muito rápido ou que são caros pelo pouco tempo de leitura que rendem. Acho que elas não entenderam o esquema:
Quadrinhos são seu par para dançar. Um par exigente, mas fiel. O prazer que o quadrinho vai te dar é diretamente proporcional à atenção que você der ao quadrinho. Pode ser uma dança rápida, com um ou dois pisões nos dedos do outro, um papinho rápido sobre a meteorologia… e tudo bem.
Mas você também pode dançar sem pressa, olhando nos olhos do seu par, ouvindo o que ele tem a dizer. Se a experiência for boa, a música entra lá no fundo, carregada de significado.
Podemos pedir que toquem a música de novo e dançar com a mesma pessoa. Olhar mais fundo nos olhos dela. Pedir que ela nos conte mais.
Ler quadrinhos é como tomar uma taça de vinho. Seja vinho barato ou vinho bom, você não pode só virar goela abaixo.
Se você não anda bebendo e acha que tomar um de boa safra não faria nem cosquinha, imagine que você vai poder beber de novo várias vezes e que a cada vez o vinho vai ser melhor, com novos sabores e nuances. Pois então: isso que é ler quadrinhos.”
Teresa Valero, escrevendo no Dia dos Quadrinhos da Espanha, aqui. (Agradecimentos a Jana Bianchi pelo apoio na tradução!)
Você leu a virapágina, newsletter de Érico Assis. Sou jornalista e tradutor, e escrevo profissionalmente sobre quadrinhos desde 2000. Publiquei dois livros: BALÕES DE PENSAMENTO 1 [amazon] e 2 [amazon]. Tem mais informações no meu website ericoassis.com.br.
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Que você vire ótimas páginas até a semana que vem.
Que texto incrível Érico, parabéns pelo trabalho!
Simplesmente maluco para ler "Pulp Empire"... Baita texto, Érico ❤️