A cartinha de hoje ia ser outra, mas ouvi um amigo inteligente e decidi esquecer o primeiro texto. Aos 45 do segundo tempo - dizem que isso é uma expressão importante em algum esporte -, resolvi mudar tudo. Então, segue um texto inédito que deveria ter entrado na COLEÇÃO SNOOPY, CHARLIE BROWN & FRIENDS e não entrou por questões de direitos autorais - os direitos das cartas. Aqui, acho que não vai dar problema.
Não vou falar da minha semana, nem de páginas viradas, nem nada disso, porque a semana foi um fracasso, dormindo mal e outras coisas. E também foi atravessada por uma carta, bem diferente dessas abaixo.
Semana que vem tudo volta ao normal. Espero muito.
CARO LEITOR
Caro Joel,
Creio que nos dias de hoje, mais do que nunca, anda difícil definir o que constitui um bom cidadão. Tenho certeza de que o que nos cabe é seguir o que nossa consciência diz e ter fé na democracia. As pessoas que mais bradam pelo retorno do que elas chamam de “Virtudes dos Estados Unidos” por vezes são as que menos depositam fé no nosso país. Acredito que nosso maior atributo sempre será a proteção das minorias mais humildes.
Com carinho,
Charles M. Schulz
A carta leva a data de 9 de novembro de 1970. No cabeçalho, o nome de Schulz e o endereço de seu estúdio em Sebastopol, na famosa Coffee Lane. Na parte inferior, misturando-se com a assinatura, um desenho impresso com Snoopy, Charlie Brown e sua pipa.
O criador de Peanuts era interpelado constantemente pelos leitores através de cartas. Provavelmente não tinha tempo de responder todas – mesmo que as respostas fossem ditadas, quem sabe até escritas por suas secretárias. Mas há centenas de cartas que circulam ainda hoje entre fãs de Snoopy e companhia, com mensagens individuai, respondidas com atenção, com consideração, muitas delas com bom humor, boas tiradas, e sinceridade diante do que aflige o missivista. Que quase sempre era uma criança.
Tal como essa carta. Ela circulou em redes sociais e sites de notícias em 2019, quando seu destinatário, Joel Lipton, compartilhou uma reprodução.
Em 1970, aos dez anos de idade, Lipton tinha recebido uma tarefa da professora da quinta série: escrever uma carta a alguém que admirasse, perguntando “O que faz da pessoa um bom cidadão?” Lipton escreveu para Schulz.
A carta foi redescoberta quase cinquenta anos depois, quando Lipton, agora aos sessenta anos, estava arrumando a casa. Ele enquadrou a pequena mensagem de Schulz – pequena mesmo: o papel de carta do estúdio era menor que uma folha de ofício – e a compartilhou no Facebook. Viralizada, a carta chegou até gente como Jean Schulz, viúva de Charles. Ela comentou que “Sparky acreditava piamente no fluxo histórico – que os povos do mundo veriam a evolução com o avançar dos tempos”.
Há outras, muitas, várias cartas de Charles Schulz que viraram públicas e se difundiram com o passar dos anos. Há, por exemplo, a que ele enviou em 1981 ao editor do Oxford English Dictionary quando o respeitado dicionário comunicou que acrescentaria a expressão security blanket – em referência ao cobertorzinho de Linus – como verbete e queria traçar a origem do termo.
Schulz foi honesto e preciso na resposta ao editor:
Continue a ler com uma experiência gratuita de 7 dias
Subscreva a VIRAPÁGINA para continuar a ler este post e obtenha 7 dias de acesso gratuito ao arquivo completo de posts.