Uma das funções que eu gostaria que a virapágina cumprisse é a de alerta. Um alerta de coisa boa. Um alerta de quadrinho bom.
Quando tiver um quadrinho bom, mas bom mesmo, que eu não tenha dúvidas de que você precisa ler, que eu preciso reler, que o mundo precisa saber que existe, eu quero soar o alerta.
Óbvio que gosto é de cada um, emoções são coisa passageira, meu entusiasmo nunca contagia ninguém com a intensidade que eu quero e eu vou acabar me frustrando.
Mas azar de tudo isso. São cada vez mais raros os quadrinhos que me provocam essa vontade de dar o alerta. E quero alertar vocês quanto a RONSON, de César Sebastián.
“Lembro de ter ouvido que todos nós nascemos e morremos muitas vezes ao longo da vida.
Que são apenas os anos que se agarram aos ossos.
Acho que é isso mesmo. Nem a pessoa que eu era nem o mundo em que eu vivia se parecem com os de hoje.
No entanto, por mais velhos que tenham ficado meus ossos e por mais pessoas que tenham ocupado minha pele ao longo desses anos, as memórias daquele período sempre foram a base de quem eu sou."
RONSON é o retrato de uma cidadezinha espanhola nos anos 1960. O narrador é um adulto lembrando o passado, principalmente de quando era criança. De como foi crescer naquele pueblo, das brincadeiras de moleque, de tentar entender o mundo misterioso dos seus pais, o dos outros adultos e o mais misterioso ainda: o da casa dos outros.
Também fala de arapucas para passarinho, sair do cinema se achando caubói, aquela tia solteira que troca de roupa com a janela aberta, cemitérios, professores, o tio da bodega e a ideia de que aquela pepita de ouro chamada passado tem umas partes que só são pintadas, que a tinta descasca fácil e revelam a pedra dura.
Tem até uma coisa metalinguística aí, porque RONSON é impressa em preto e um ocre meio dourado.
César Sebastián nasceu em uma cidadezinha espanhola parecida com a de RONSON, mas tem só 36 anos. É evidente que ele não viveu a Espanha dos anos 1960. Ele começou o quadrinho contando as histórias de seu pai naquela mesma cidade: Sinarcas, província de Valencia.
Mas como as histórias do pai e dos amigos do pai, e do que aconteceu com quem, e onde, começaram a se misturar – a mistura e a confusão das memórias é um tema que reverbera pelo quadrinho –, Sebastían resolveu que não iria dar nomes aos seu protagonista nem à cidade. É uma infância de cidadezinha nos anos 1960, como tantas outras na Espanha.
(Talvez como muitas infâncias brasileiras de cidade pequena no século 20. Já chego lá.)
“Enquanto estava produzindo, percebi que o que eu gostava nas histórias do meu pai ou em relatos que vinham de gente mais velha era a estrutura digressiva e caótica”, Sebastián disse em entrevista ao Periódico de España. “Porque, no fundo, é assim que a memória funciona.”
"Por que um punhado de histórias e fragmentos de imagens, aparentemente desconexas, deixaram marca tão profunda em mim?
A que razões misteriosas obedece este emaranhado que construímos na mente ao longo da vida?
Por que não podemos manter viva a recordação dos momentos de alegria...?
Nem esmaecer os fatos mais dolorosos até que virem esquecimento?"
RONSON começa com uma digressão comprida sobre memória. Os desenhos passeiam pela cidadezinha e seus arredores. Não se vê gente. Lembra muita coisa que se faz no cinema, com paisagens e voice over, mas também lembra quadrinhos experimentais tipo THE CAGE, de Martin Vaughn-James, ou AUTOCRACIA, de Woodrow Phoenix.
Depois, o álbum se divide em oito capítulos. Um mais genérico sobre ser criança, outro sobre o trabalho rural, um sobre matar passarinhos com bodoque (e o que o diabo acha disso), um sobre os filmes de faroeste no cinema do vilarejo, outro sobre descobertas sexuais. Este tem uma passagem sobre abuso infantil, triste, que é só uma das que descasca o ouro do passado..
O capítulo seguinte explica o nome do álbum, que tem a ver com uma moeda que o narrador carrega até hoje. A semelhança com o “Rosebud” de CIDADÃO KANE não é acaso.
Apesar de os capítulos serem independentes, o penúltimo capítulo é o clímax emocional de toda RONSON. Trata de Ismael, um amigo do protagonista, e acompanha a amizade que eles têm de pequenos até a adolescência. Este capítulo, sozinho, já é um monumento.
E termina com um capítulo final que é outra digressão sobre memória, a partir de lembranças sobre figuras do vilarejo em um passeio pelo cemitério. “Cheguei na idade em que se tem mais amigos aqui dentro do que fora”, diz o narrador.
A infância em uma cidadezinha espanhola dos anos 1960 é um tema que, dito assim, não me chama atenção. Além disso, parece uma coisa muito específica para provocar alguma identificação. Eu, nascido em uma cidade cem vezes maior, muitos anos depois, no Brasil, não tenho nada a ver com aquele mundo de RONSON, né?
Mas não é só infância, Espanha e passado.
O quadrinho que RONSON mais me lembra é L’ENFANCE D’ALAN, de Emmanuel Guibert – uma referência declarada de César Sebastián e um dos meus quadrinhos preferidos da vida. L’ENFANCE é um relato sobre ser criança na Califórnia dos anos 1940, ainda mais distante de mim e de qualquer pessoa que eu conheça. Também é uma história distante do próprio Guibert, francês que contou as memórias de um amigo norte-americano muito mais velho.
Mas o que esses quadrinhos mostram, quando bem feitos, é que há sensações ou experiências universais, independente de tempo, idade ou país. Talvez seja a experiência da própria memória, de como nós construímos na nossa cabeça o que vivenciamos – misturando com histórias dos outros, com sonhos, com tudo que contamina a realidade como ela aconteceu. Memórias têm um gosto, sejam de quem forem, e acho que meu encanto com esses quadrinhos têm a ver com eles transmitirem esse gosto.
Além disso, tem algo de particular em contar memórias nos quadrinhos. Pode ter a ver com a proximidade entre quadrinhos e fotos, os instantâneos do passado que são um dos recursos que a gente usa para provocar a memória, igualmente enquadrados.
Mas talvez exista algo mais íntimo entre o jeito como a memória funciona – as imagens da nossa lembrança – e estas sequências de momentos congelados no papel, desenhados com certas ênfases em certos aspectos e apagando certos outros. Tal como a memória enfatiza o que quer e apaga o que não quer.
Já rolou a teoria de que nós sonhamos não em filme – cenas com movimento –, mas em quadrinhos – recortes estáticos de uma cena. De repente as memórias também são assim?
O que interessa: RONSON é um grande quadrinho. Um imenso quadrinho. Que eu terminei de ler e me deixou estático, travado, olhando para o nada, ouvindo o silêncio. E lembrando. São poucos, cada vez menos leituras, que me provocam tanto.
E acho que meu pai, que cresceu numa cidadezinha bem pequena, brasileira, nos anos 1950 e 60, ia se ver naquela Espanha da mesma época. É um quadrinho para nós, nossos pais e avôs.
RONSON saiu por uma pequena editora espanhola chamada Autsaider Cómics no ano passado. Ganhou o Premio Santa Cruz Cómic, o prêmio dos críticos da Radio Nacional de España, o Premio Miguel Gallardo no Festival de Barcelona e o Premio de la Asociación de Críticos y Divulgadores de Cómic de España. Está na quarta tiragem por lá. [amazon.es]
“This represents Brazil more than soccer and samba”, diz o meme.
Fazendo uma paráfrase para falar da BRABA: BRAZILIAN COMICS ANTHOLOGY, que sai este mês pela Mino e pela Fantagraphics:
This represents Brazil as much as Anitta.
Considere aí o quanto você gosta ou não gosta da Anitta como símbolo do Brasil.
A primeira história da BRABA, da Amanda Miranda, abre com essa página que, se eu contei direito, tem 55 quadros. É uma porrada visual não só na quantidade de imagens, mas nas cores quentes, fortes, brabas. Quem tem alguma coisa de sinestesia deve ouvir essa página como um funk pesadão, dentro do baile, na muvuca. Essa página parece uma declaração de intenções de toda a antologia.
Folhear a BRABA é sentir muito desse funk de cores fortes e imagens porrada. Um pancadão. As ilustrações de Pedro Cobiaco que antecedem cada história entram nessa conta, focando na iconografia do pixo, caveiras, numa mistura de paisagens meio naturais, meio urbanas (a periferia?). Sempre cores fortes.
Mas tem mais pancadas, porradas e portentos nas diagramações do Jefferson Costa, nos corpos da Jéssica Groke transbordando dos quadros, nos botecos do Shiko e no minotauro do Wagner Willian. Até na história de
e Paulo Crumbim, a mais suave do álbum, as cores queimam os olhos. Parece que o álbum quer uma reação fisiológica, como a de ficar colado na caixa de som durante um show da Anitta.No geral, depois da leitura, parece que a vontade de deixar essa impressão fisiológica - a de você arregalar os olhos, no mínimo - foi mais importante na seleção e execução das histórias do que a vontade de ter concisão narrativa.
A maioria das 13 HQs – feitas por 16 autores e autoras – opta pelo caminho experimental, não-linear, às vezes hermético, de contar uma história. São HQs que não se explicam fácil, nem querem se explicar fácil. São aquela letra de música que soa legal, poética, bonita, que até gruda no cérebro, mas que se abre para 273 interpretações. Ou pra nenhuma.
Talvez alguém vá dizer que a antologia quis se aproximar do que a própria Fantagraphics publica do quadrinhos experimental norte-americano. O tipo de narrativa que se vê na BRABA lembra muito o tipo de narrativa que se vê na NOW, a revista de novos autores da Fanta, por exemplo.
Mas eu não diria que é o caso. Pedro Franz fez quadrinhos herméticos toda a carreira, assim como os do Wagner Willian exigem segunda ou terceira leitura e Jéssica Groke se embrenha nas metáforas visuais e nem sempre consegue te levar junto. Eles não fizeram quadrinho à moda Fantagraphics, e sim à moda do que sempre mostraram.
Há exceções. Como eu disse, a HQ de Eiko e Crumbim é suave, bastante literal – e engraçada, sendo que nenhuma outra história do álbum se propõe ao humor. (Aliás, é o tipo de slice of life que os juízes do Eisner Awards costumam gostar.) Não tem nada de muito complicado na história de vampira de Rafael Coutinho, embora ela tome uns rumos, inclusive no desenho, que lembrem o material mais esotérico da Laerte. É a HQ em que eu achei Coutinho mais próximo da mãe.
Bruno Seelig é perfeitamente linear, mas resolveu contar sem falas uma história difícil de contar sem falas. Pedro Cobiaco faz um Vinicius de Moraes dedilhado no violão, delicado, bonito, um respiro de sete páginas no meio do álbum - mesmo que seja uma difícil de decifrar (Gosto pra caramba do trabalho do Cobiaco e estava com saudade de uma história só dele.).
Li a edição em inglês, formato digital, gentilmente fornecida pela Fantagraphics. As cores de tela podem influenciar meu julgamento e pode ser que a versão impressa nem seja tão intensa. A tradução para o inglês – que em alguns pontos me pareceu meio travada, sem a fluidez que o texto podia ter – também pesa na minha avaliação.
Em relação a como ela vai ser recebida pelos gringos… Olha, os leitores dos EUA, até leitores de Fantagraphics, costumam olhar para autor estrangeiro assim: “Essa Amanda Miranda faria um puta Motoqueiro Fantasma!”
O mercado de lá geralmente não busca se aprofundar no que o autor de fora tem a oferecer de obra própria, e sim como mão de obra nova pro país. No mais, pro leitor gringo o autor estrangeiro é tipo uma frutinha exótica que você prova uma vez, se sente bem porque variou o cardápio, e tudo bem se nunca mais provar na vida. É difícil alguém chegar lá e ficar, nos seus termos.
É claro que vão rolar discussões sobre o quanto a BRABA representa o quadrinho brasileiro. Não vão chegar a conclusão nenhuma. Se tivesse 160 autores e não 16, a discussão ia ser a mesma. É óbvio que há mais quadrinistas e mais estilos de quadrinho no Brasil, mas se você começar a lista de “Cadê fulano? Cadê sicrana?”, vai se dar conta que queria que publicassem o território, não o mapa. E uma antologia só pode ser um mapa.
O mapa do quadrinho brasileiro que a BRABA mostra quer apontar um caminho específico, uma ideia – pra gringo ver – do que temos de HQ. Tem uma certa variedade, sim. Tem, sobretudo, cor, força, vibração e porrada. É uma ideia do quadrinho brasileiro, e não é a única ideia que se pode ter sobre o que é o quadrinho brasileiro. É uma.
Pra mim, essa ideia represents Brazil as much as Anitta. Goste o quanto você gostar da Anitta como representante do Brasil.
A Mino e a Fantagraphics vão soltar a BRABA quase ao mesmo tempo: a edição gringa sai em 23 de julho [amazon] e a brasileira está prevista para 5 de agosto [amazon].
No início da semana recebi as respostas da entrevista que mandei há umas semanas para um decano dos quadrinhos (comentei aqui). Transformei a entrevista em matéria para a Folha de S. Paulo, e o texto sai a qualquer momento.
O PROJETO BALEIAL, uma tradução, está entregue.
O PROJETO PIXO, que é de acompanhamento editorial, também está entregue.
Entreguei a tradução de A ESPADA SELVAGEM DE CONAN 1, a ressurreição da revista que já foi das mais vendidas no Brasil. É revista mesmo, com quadrinhos, textos, um conto e até poeminha do Robert E. Howard. Oitenta páginas. Traduzi tudo. Sai em setembro.
Traduzi mais umas 40 páginas de outro projeto Conaniano.
O PROJETO TESLA rendeu bastante: 208 páginas da primeira versão.
E comecei o PROJETO KITTY, mais um infantil, que devo entregar na segunda-feira.
Participei da redação do 2Q News acima e do Lançamento da Semana, do mesmo canal, abaixo:
Também saiu minha resenha de AS GUERRAS DE LUCAS na revista QuatroCincoUm. Eu conhecia a história com detalhes por causa da tradução de COMO STAR WARS CONQUISTOU O UNIVERSO. Falo da produção, de escolhas do quadrinho, de hagiografia e do que faltou contar. Para ler, é só clicar na imagem:
Os links abaixo são de trabalhos meus que foram lançados há pouco ou serão lançados em breve. Comprar pelos links da Amazon me rende uns caraminguás. Se puder, use os links. As datas podem mudar a qualquer momento e eu não tenho nada a ver com isso.
em julho
NICKY & VERA: O DISCRETO HERÓI DO HOLOCAUSTO E AS CRIANÇAS QUE ELE SALVOU, Peter Sís, companhia das letrinhas
KULL: A ERA CLÁSSICA VOL. 2, Roy Thomas, Don Glut, Gerry Conway, John Severin, Marie Severin e outros, panini
CHEGA PRA LÁ, Katrina Charman e Guilherme Karsten, harpercollins brasil
STRANGER THINGS: KAMCHATKA, Michael Moreci e Todor Hristov, panini
OS INVISÍVEIS EDIÇÃO DE LUXO vol. 2, Grant Morrison, Steve Yeowell, Steve Parkhouse e vários, panini
CONAN, O BÁRBARO 4, Jim Zub, Doug Braithwaite e outros, panini
LOBO OMNIBUS VOL. 1, Keith Giffen, Alan Grant, Val Semeiks, Martin Emond e outros, panini [traduzi um terço do omnibus]
MOONSHADOW, J.M. DeMatteis, Jon J. Muth, pipoca & nanquim [reimpressão]
em agosto
CONAN, O BÁRBARO: A ERA CLÁSSICA VOL. 8, James Owsley, Val Semeiks, Geof Isherwood e outros, panini
STRANGER THINGS E DUNGEONS & DRAGONS, Jody Houser, Jim Zub, Diego Galindo e Msassyk, panini
LÚCIFER - EDIÇÃO DE LUXO VOL. 4, Mike Carey, Ryan Kelly, P. Craig Russell, Marc Hempel, Ronald Wimberly e outros, panini
PONTOS FRACOS, Adrian Tomine, nemo
em setembro
A ESPADA SELVAGEM DE CONAN 1, John Arcudi, Max von Fafner, Jim Zub, Patrick Zircher, Robert E. Howard, Roy Thomas, panini
SENHOR DAS MOSCAS, Aimée de Jongh (baseado no livro de William Golding), suma
O ABOMINÁVEL SR. SEABROOK, Joe Ollmann, quadrinhos na cia.
em outubro
MINHA COISA FAVORITA É MONSTRO - LIVRO 2, Emil Ferris, quadrinhos na cia.
Comparando INVISÍVEIS EDIÇÃO DE LUXO VOL. 1 e a INVISÍVEIS VOL. 1 que saiu em 2014, há dez anos. Traduzi as duas, mas pedi para revisar umas coisinhas agora que a série está sendo relançada. Encontrar as diferenças é o jogo que ficou de brinde pra quem tiver as duas.
vem aí
HOW TO e WHAT IF 2, Randall Munroe, companhia das letras
KRAZY & IGNATZ VOL. 2: 1919-1921, George Herriman, skript
SAPIENS VOL. 3, David Vandermeulen e Daniel Casanave, quadrinhos na cia.
COMIC BOOKS INCORPORATED, Shawna Kidman
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS e ATRAVÉS DO ESPELHO, Lewis Carroll
FEEDING GHOSTS, Tessa Hulls, quadrinhos na cia.
mais BONE de Jeff Smith (e amigos), todavia
+ Adrian Tomine
+ Tom Gauld
+ Dan Clowes
+ Shaun Tan
+ Will Eisner
+ Guilherme Karsten
+ Oliver Jeffers
+ Gato Pete
+ Agatha Christie
+ Mike Birchall
+ Lore Olympus
+ Projeto Camalote
+ Projeto Tylenol
+ Projeto Fritas
+ Projeto Baleial
Todas as minhas traduções: ericoassis.com.br
SPLENDEURS & MISÈRES DU VERBE, Ibn al Rabin. [lireka]
Laerte, no Twitter.
André Dahmer, no Twitter.
DIÁRIO INQUIETO DE ISTAMBUL VOL. 1, de Ersin Karabulut (tradução de Fernando Paz). Foi uma das minhas melhores leituras do ano passado (ou retrasado?), e sai aqui no fim do mês pela Comix Zone. [amazon]
ZATANNA: BRING DOWN THE HOUSE 1, roteiro de Mariko Tamaki, desenho e cores de Javier Rodríguez, letras de Hassan Otsmane-Elhaou. [amazon]
Charles Burns em KOMMIX, a coleção de capas de revistas que não existem. [amazon]
Mais Pedro Cobiaco na BRABA. [amazon]
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Oi, Érico.
Gostei muito da sua newsletter, como sempre. Fiquei pensando que talvez os quadrinhos aproximem-se da memória também pela questão temporal - nós escolhemos quanto tempo ficamos em determinado quadro, e podemos passear entre os quadros com muito mais facilidade que poderíamos passear entre as cenas de um filme. As ilustrações servem de guias para esses passeios, algo que não existe em livros, e que também aproximam os quadrinhos das memórias: aquela coisa de um cheiro lembra uma pessoa que lembra um lugar acontece ao rever uma página de quadrinho, onde passado, presente e futuro são uma questão de escolha do olhar. No fim das contas todos os quadrinhos são não-lineares - nós vemos o todo e os detalhes ao nosso bel-prazer e preenchemos o que não está mostrado com nossa imaginação. É exatamente assim que penso que minhas memórias funcionam - eu lembro da minha casa antiga como um todo mas também em detalhes, tudo ao mesmo tempo, exceto se eu decidir me focar em algo.
Abração e muito obrigado pelo texto.
"Memórias têm um gosto, sejam de quem forem, e acho que meu encanto com esses quadrinhos têm a ver com eles transmitirem esse gosto".
Brilhante!