034: ZIRALDO E O TRAÇO BRASILEIRO - parte 2
bruno porto, odyr, rafael coutinho e ilustralu | minha semana | capitalismo | páginas viradas
Lancei o assunto na virapágina da semana passada: um tempo atrás, vi uns desenhos da Ilustralu e comecei a pensar nos pontos de encontro entre o traço dela e os traços de outros quadrinistas do Brasil. Conversa vai, conversa vem, chegamos no Ziraldo. Será que Ziraldo é a referência inicial para esses supostos traços em comum no traço dos brasileiros? Existe uma linha sucessória - uma linha sucessória desenhada - no quadrinho brasileiro? Nunca desenvolvi essa pauta.
Ziraldo faleceu este mês e a pauta voltou. Muito se falou que Ziraldo é ponto de referência para todo mundo que desenha no Brasil. Não vejo esses personagens troncudos, as linhas sinuosas e os ângulos pontiagudos em todo mundo, mas identifico isso em vários autores de hoje – Ilustralu, Jefferson Costa, Gabriel Bá, Felipe Nunes, Cris Eiko. E volto ao início: seria esse o estilo legitimamente brasileiro de desenhar? Esse é o traço brasileiro? Existe traço brasileiro?
Como adiantei na semana passada, eu queria lançar a dúvida para algumas pessoas. Vou dizer que elas mais problematizaram minhas perguntas do que me responderam – o que também é um jeito de responder. (Ou não.) O fato é que gostei das respostas e quero publicar.
Não senti nenhuma obrigação de chegar a uma conclusão, mas o papo valeu pelos mil caminhos que apontou… a partir do Ziraldo. Manobrei o esquema, sim, mas fiz o Ziraldo virar o ponto de referência.
“Como te disse antes, não acredito que exista um traço típico no Quadrinho Brasileiro, como não há um tipicamente nos EUA, na França etc. Jack Kirby ou Robert Crumb? Uderzo ou Jacques Martin? Assim, não enxergo Ziraldo exatamente como uma linha de partida do estilo atual do quadrinho nacional. Mas ele certamente influenciou muita gente, e não apenas no desenho.”
Quem respondeu primeiro foi Bruno Porto. Designer, professor, pesquisador de quadrinhos, crítico e articulador de discussões críticas sobre quadrinho no Raio Laser, é ao Bruno que eu recorro quando quero uma explicação textual sobre uma coisa visual que eu não sei explicar. Ele sempre sabe. Ele sabe os nomes e ele sabe a história.
O Bruno também andou recuperando muito sobre o Ziraldo Designer lá no Xwitter.
“Acho que essa influência do traço [do Ziraldo] acontece nas produções do Miguel Paiva e do Mig Mendes, que trabalharam com ele quando jovens.”
Miguel Paiva:
Mig Mendes:
“Mas, se não foi exatamente o primeiro (Walt Disney, Pogo de Walt Kelly etc), o conceito de uma turma de personagens antropomórficos, como os personagens do Pererê (1959), certamente influenciou a Turma da Mata (1961) do Mauricio de Sousa e as criações de Daniel Azulay e Ely Barbosa dos anos 1970.
O próprio Ziraldo incorporou muito do desenho do Saul Steinberg (1914-1999), aquele que o Millôr definiu como ‘o pai de todos nós’, referindo-se à geração d’O Pasquim.”
Steinberg:
Millôr:
“Posso estar enganado, mas os pés de ferro de passar roupa dos personagens do Ziraldo (e, nos anos 1970, nos de Mauricio de Sousa, e no Rango do Edgar Vasques) vieram dos cartuns do Fortuna (1931-1994), seu colega no Pif-Paf e n’O Pasquim.”
Fortuna e os pés de ferro de passar:
“O estilo de letreiramento que se tornou característica marcante dos cartazes e livros do Ziraldo, e que pode ser visto até na marca da Telerj que ele criou em 1970, é baseado na tipografia Ad Lib, desenhada por Freeman Craw (1917-2017) em 1961.”
E isso foi só a resposta à minha primeira pergunta: se ele enxergava algo de Ziraldo (desenho, temáticas, arquétipos) no estilo de quadrinistas posteriores. Veja que ele deu a volta na pergunta: falou mais do pessoal anterior a Ziraldo.
Quanto à minha segunda pergunta – “Quais os quadrinistas brasileiros que mais influenciaram outros quadrinistas brasileiros em termos de ideias e técnica?” – ele chamou sua resposta de “tentativa torpe”:
“Os nomes que mais me vêm a cabeça vêm por que possuem desenhos bastante únicos, embora possamos enxergar NELES influências: Luiz Sá, Belmonte, Ziraldo, Flavio Colin (pós-descontrução de Milton Caniff e Chester Gould), Jayme Cortez, Henfil, o próprio Mauricio de Sousa, Ota, Laerte, Angeli, Glauco…”
Luiz Sá:
Belmonte:
Colin:
Jayme Cortez:
Ota:
Angeli (das antigas):
“É natural assimilar, inconscientemente ou não, soluções de outros profissionais, principalmente na fase inicial de carreira. Vejo isso mais facilmente no cartum e na ilustração do que nas HQs (talvez porque estas sejam mais longas?).
Tem um baita Ziraldo numa Laerte dos anos 1970:
Tinha muito Negreiros (1955-2023) nos cartuns do Orlando Pedroso.”
Negreiros:
Orlando Pedroso:
“Tem umas ziraldices e millôrices nos cartuns do Luscar do final nos anos 1960, mas as HQs do Luscar têm uma vibe mais Henfil (que certamente influenciou o Glauco).”
Luscar:
Henfil:
Glauco:
Pedi para ele concluir o raciocínio. Ele me enrolou. Aí ele leu o texto do André Valente na virapágina passada e não quis mais brincar.
“André Valente é foda pqp desculpe o palavreado. Que texto, meus amigos, que texto. Eu ia descrever a tipografia, aí desisti e o canalha fez muito melhor do que eu faria. Que vontade de abraçar aquele verme.”
Valente mora na França, Bruno no Canadá. Não sei se o abraço já aconteceu.
Odyr não mora no Canadá nem na França. Ele mora na mesma cidade que eu, Pelotas, aqui na pontinha sul do Brasil. Mas acho que nos veríamos ao vivo com a mesma frequência se ele morasse, sei lá, em Xangai.
Já tratei de como é visitar o Odyr em outro texto – quando chamei ele de “ogro adorável” porque ele chamou o Millôr de “ogro adorável”. Conversamos mesmo pela internet. Odyr tem opiniões claras, fortes, usa o desprezo calibrado quando despreza alguma coisa, faz as palavras soltarem fogos de artifício quando gosta de alguma coisa. Adoro esses papos.
Ele acabou de lançar a adaptação de VIDA E MORTE SEVERINA para quadrinhos. Ainda não li. Preciso.
Enfim, sobre Ziraldo:
“Fantástica pauta. Sobre o desenho brasileiro: Colin é um milagre e um original que, sim, tem uma brasilidade, talvez um eco da xilogravura dos cordéis? Vejo algo dele no André Diniz, no Leandro Assis. Talvez no Marcelo D’Salete? Essa é uma linha do tempo que reconheço. A que você citou não enxergo tanto.”
Mais Colin:
André Diniz:
Leandro Assis:
Marcelo D’Salete:
Eu havia citado a ele Gabriel Bá, André Diniz, Jefferson Costa, Ilustralu, Helô D’Angelo, Felipe Nunes, Pedro Cobiaco. E, antes deles na linha do tempo, mas depois do Ziraldo: Flavio Colin e Miguel Paiva.
“Acho que não vejo essa coisa do Ziraldo que você fala. A síntese intensa dele e a deformação não são locais. O que poderia pensar como brasileiro é o contrário: uma expressividade. Julio Shimamoto, Colin, Olendino... Daquela geração, tem algo de selvagem, emocional. Que você vê no citado Cobiaco, no André Kitagawa, no Leandro Assis. Uma linha pesada e voluptuosa.”
Julio Shimamoto:
Olendino Mendes:
André Kitagawa:
“É o contrário da pureza de linhas do Ziraldo. O contrário da arte americana precisa e controlada dos super-heróis. Mas, se se sustenta ou não, ou que ramificações teve, não sei.
(Colin vem antes, acho. Anos 50. Claro, Colin começa como herdeiro de Caniff e Frank Robbins antes de achar seu estilo. Dois sujeitos com uma linha bastante sensual e expressiva. Então, rá, não sei se há algo realmente brasileiro.)”
Mostrei umas imagens de comparação de Ziraldo com alguns nomes recentes. Ele disse que enxergou meu argumento – mas voltou à outra linha sucessória do traço brasileiro que ele percebe.
“Dos poucos que conheço hoje em dia vejo essa expressão mais selvagem de linha no Cobiaco e no Leandro Assis. Talvez no Diniz. O Angeli, talvez? A própria Laerte tem uma linha assim também, ainda que mais limpa. O Marcatti.”
Pedro Cobiaco:
Marcatti:
“Em particular, é interessante ver essa expressão no humor, porque é uma área tradicionalmente de um traço leve. Você pensa naqueles cartuns da New Yorker, levíssimos, mas os brasileiros têm a mão mais pesada.
Cartum em geral, quanto menos desenho, melhor. E leve, como um suflé. Mas olha o Edgar Vasques. A mão pesada, expressiva, quase excessiva pra tarefa. O próprio Ziraldo. De uma certa maneira ele tinha desenho demais pro cartum. É um desenho triunfalista, uma ocupação do espaço violenta. Como o Vasques.”
Edgar Vasques:
Como costuma acontecer nas nossas conversas, teve uma hora que o Odyr, metaforicamente, fechou a porta. Estou acostumado e faz parte do ogro adorável.
“Desculpa, cansei. Vou voltar pro Ripley.” Ele anda vidrado no novo Ripley da Netflix. Bom Ripley, Odyr.
Rafael Coutinho tem feito poucos quadrinhos. Depois que O BEIJO ADOLESCENTE, seu último, virou série da HBO, tenho visto ele investir na persona professor de desenho. Agora ele usa óculos. Ele tem um curso online/presencial que começa no mês que vem e está com inscrições abertas. Desenha pra caramba, tanto em quantidade quanto qualidade, e sabe falar sobre desenho.
Aí, quando eu fui perguntar sobre o desenho do Ziraldo, o que ele menos falou foi de desenho.
O que não foi problema. O Rafael puxou outros aspectos de como Ziraldo influenciou o quadrinista, o ilustrador, o cartunista, o designer, o artista brasileiro. Misturou algumas percepções do que ele tem visto e conversado numas viagens pela América Latina.
Rafael Coutinho desenhando gente (esse é o nome do curso)
E me colocou tudo isso em dois áudios gigantes no WhatsApp. Cuja transcrição está abaixo, com alguns poucos cortes e remendos. Como estamos falando de Ziraldo, estou no direito de fazer aquele estilo de transcrição de entrevista que ele e a turma d’O Pasquim eternizaram há cinquenta anos e bolinha.
Mas, se você quiser um resumo: Ziraldo inspirou a fome do artista brasileiro. É isso.
“Acho muito que o que você está falando tem um sentido, tem uma razão de ser. Eu vejo uma raiz gráfica em algo ali… não só do Ziraldo, mas também do que vem um pouquinho antes.
Porque o Ziraldo foi lá beber dos europeus, dos franceses e tal, mas também se encharcou desse traço humorístico argentino que eu acho que estava se expandindo na América Latina, que é o humor dos anos 50 para 60. Mas que também, de alguma forma, bebia no Jota Carlos, no design e na ilustração muito precisos, limpos, e ao mesmo tempo muito gráficos mesmo, muito embebidos no design.”
Jota Carlos:
“Quase uma Belle Époque latino-americana, que já vinha dos anos 1930. Essa coisa bem-educada e precisa, mas já com intenções de se emancipar de uma herança europeia. Não herança, quase de uma obrigatoriedade europeia, né. Que foi como o estilo europeu se impôs no mundo. De alguma forma ele contaminou e encantou ao ponto de que em muitos artistas você não consegue dizer a diferença, dizer se um grafismo é europeu, se é uma identidade de fora.
Mas isso foi graças também aos movimentos, os antropofágicos, que de alguma forma bebiam no modernismo brasileiro, na Semana de 22 lá atrás. Que criaram uma corrente filosófica gráfica que permeou o nosso raciocínio gráfico durante muito tempo
Mas isso tudo é para dizer também que eu não acho que os artistas tenham essa consciência. Ou que trabalhem com essa premissa na cabeça. Eu acho que, na maior parte das vezes, o que acontece é uma contaminação quase genética, que vem passando de geração em geração. Que tem a ver com um desejo muito grande de se expressar, de se impor no mundo.
O brasileiro, a arte no Brasil… e não só a arte, mas o esporte, a nossa identidade, especificamente a brasileira, é um pouco diferente. Até da latino-americana, a meu ver.
Vou ousar aqui: a gente tem alguma coisa na nossa capacidade de expressão, na nossa autoliberdade… uma coisa que o artista brasileiro tem, uma malemolência mesmo, uma autopermissão de se expandir para além do saber acadêmico. E, ao mesmo tempo, um desejo muito grande de acompanhar vanguardas internacionais, de não ficar para trás. Uma coisa quase competitiva, um desejo de se fazer valer. É isso: não vejo brasileiro se intimidar, de uma forma geral, quando educado, quando passada aquela rebentação do que é basilar, do que é o impulso de fazer, de ter alguém em casa te alimentando, de ter um contexto social minimamente positivo ali. A gente tem essa química, essa biologia interna, que nos permite, que nos deixa com fome.
Eu falo isso porque eu vi acontecer centenas de vezes fora do Brasil e aqui dentro, essa força que existe em todos nós. Eu acho que tem a ver também com a nossa história pregressa. Mesmo com o Ziraldo, com a educação histórica que a gente teve, com um período de educação pública muito forte dos anos 50 e 60, que ainda se fazem sentir embora tudo esteja sendo sucateado e cagado por décadas depois dali, ainda existe uma coisa originária que nos traz essa potência.
Dito isso tudo, eu acho que essa potência se expressa num momento de pico no gráfico do Brasil com a geração do Ziraldo. Acho que ali aconteceu uma confluência muito mais forte, para além do grafismo. Que era ver um cara aparecendo na TV junto com uma geração toda, falando várias línguas, tirando sarro com um humor muito inteligente, aguçado, fino, sofisticado, falando de filosofia, falando de cultura popular. Dando um valor absurdo para a nossa cultura. E aí estamos falando também da literatura brasileira dos anos 60, Graciliano Ramos. E, antes, Mário de Andrade, Suassuna. Olha nessa geração a potência que era a capacidade de expressão, de criação. Foi uma alavanca que eu acho que a gente vai sentir ainda por bastante tempo.
Estou dizendo isso porque eu acho que as novas gerações não sentem mais a influência da geração do Ziraldo nos seus próprios trabalhos. Talvez nunca tenham lido o Ziraldo. Mas tá ali, para mim. Está muito presente no grafismo. E na postura. Uma postura faminta. Combativa. A vontade de comer a cultura gringa e vomitar algo nosso, novo. Construir uma linguagem pessoal.
Isso é raro de encontrar. Eu acho isso bem raro de encontrar. Viajando na América Latina, por exemplo, eu tenho dificuldade de encontrar essa coisa que tem muito aqui no Brasil: esse sujeito artista classe média, classe baixa, pobre, às vezes até classe média alta, mas que tem uma fome de autoexpressão, vontade de descobrir uma própria linguagem, de não baixar a cabeça, de expandir os horizontes para fora do Brasil. E através do próprio trabalho. Que a linguagem do trabalho fale nesse lugar.
E é um lugar que tem a ver com história em quadrinhos, tem a ver com ilustração, com design de personagem, tem a ver com uma identidade. O garoto/garota que quer ser grande desenhista, que quer ter uma linguagem própria, que não quer só trabalhar pra gringa, entrar na máquina criativa Americana, europeia. Tem uma coisa, uma necessidade muito grande de falar por si. E eu acho que isso a gente deve muito, muito, muito ao Ziraldo. Muito.”
E ele complementou com mais um áudio:
“Para complementar: eu acho que a gente nunca mais conseguiu chegar nesse lugar. Embora seja já uma geração de Grampás, Gabriel Bás e Ilustralus, e que exista uma dimensão gigante e linda que já está acontecendo…
[Na época de Ziraldo,] Tinha alguém que estava corriqueiramente na Rede Globo, inventando alguma coisa, que o editorial estava sempre de calça arriada perguntando ‘o que que você quer fazer agora?’. Um artista que, em algum momento, sentou para bolar se não ia ter parque temático das suas criações. Que fechava contratos gigantescos com o Governo Federal para campanhas de vacinação, de conscientização da população.
E, para além do Ziraldo, toda aquela geração Henfil, a geração 60. Que faziam isso mesmo. (Eu acho que o Henfil deve muito ao Ziraldo também.) Era gente que estava falando de política enquanto falava de arte, de cartum, de humor. Estava politizando, educando uma nação inteira. Estava pensando em como combater o analfabetismo no país.
Enfim, é muito impressionante. Eles faziam o jornal mais lido do país para lutar contra uma ditadura. O voo do Ziraldo é gigante demais. Muito bonito. Eu acho que isso ecoa. Essa grandiosidade.
Eu vivo dizendo isso: eu acho que a gente perdeu e tem perdido a habilidade de sonhar alto nesse lugar, nesse nível que essa geração fez. E que o Ziraldo fez com muita habilidade. Não só no blá, no que ele dizia. Mas muito mais no que produzia. Como criar uma história em quadrinhos. Se comunicar com o Brasil inteiro. Fazer todo mundo ir para bienais de leitura no país inteiro. Que mudasse a perspectiva de leitura, identidade, entendimento de identidade do Brasil inteiro. Porra, que coisa foda.”
Eu sei que ele falou de bem mais do que eu perguntei – e até, de certo modo, respondeu um pouco sobre a pergunta do traço. Mas o que ficou de bonito no podcast do Coutinho, para mim, é isso: Ziraldo tinha fome e influenciou tantos outros a terem fome.
Como eu comentei lá em cima, o início dessa pauta veio com desenhos da Ilustralu. Nada mais apropriado que encerrar com ela.
Ilustralu foi direto ao ponto, com uma precisão, digamos assim, ergonômica:
“O que sempre me fisgou pro Ziraldo foram os gestos. Eu conseguia ver cada personagem de cada ilustração como se eles tivessem vivinhos da silva, ali na minha frente. Nas mãos, nas formas, nos olhares. Era como se o gesto que o Ziraldo fazia ao desenhar aquelas figuras fosse quase sempre um jeito de soprar uma vida cósmica, uma alma em cada um.
Foi vendo vídeos de Ziraldo desenhando que eu reparei que ele desenhava com o braço inteiro, não só com a mão. Desde então, muitas horas de fisioterapia me foram poupadas. Eram literalmente desenhos de grandes gestos.
No Maluquinho feliz, nos homens tristes, nos animais sempre tão expressivos e na mensagem - da mais bruta à mais branda - a gente consegue sentir que era tudo sincero, genuíno. É a sinceridade que faz um traço ser original assim.
Acho que toda a obra de Ziraldo foi um gesto de carinho pra quem veio depois. Porque a gente não sabe que pode ser uma coisa que nunca viu, e no momento que eu vi, que eu conheci o jeito de fazer quadrinhos dele, eu quis ser assim no que eu faço: sincera, generosa e carinhosa nos gestos, que nem ele. Tenho tentado desde então.”
Mais uma semana de muito Conan. A tradução dos extras, só dos extras de CONAN, O BÁRBARO: A ERA CLÁSSICA VOL. 8 praticamente virou um projeto à parte do volume. Já entreguei 496 páginas de quadrinhos desse volume e os extras dão 120 laudas condensadas em mais umas cem páginas: textos, textos e mais textos que dariam um livro parrudinho. Já traduzi tudo, revisei e entreguei metade. Semana que vem acaba - para eu poder fazer mais Conan.
A metade que está pronta é esse pequeno monstro chamado THE OFFICIAL HANDBOOK OF THE CONAN UNIVERSE, que tenta (tenta) ser um guia de todos os países, povos e personagens principais de Conan.
Você já traduziu mapa? E teve que conferir quais nomezinhos são traduzidos e quais não e, se são, qual é a tradução oficial ou mais usada nos gibis/livros no Brasil - e também se o original não tem erros de grafia (porque tem!)? Então:
Além disso, tem um verbete sobre “armamentos e armaduras” que me fez comprar um livro sobre armamento medieval e estudar todas as etapas que o escudeiro tem que cumprir para vestir um cavaleiro medieval com sua armadura (lorigão? gibão? sobreveste? chausses?). Essa é a vida do tradutor.
Comecei uma revisão tímida do PROJETO CAMALOTE. Só 25 laudas. Mas o difícil da revisão de um livro longo é, sempre, começar: perder o medo de como vai ser. E perdi. Semana que vem vai render mais. A entrega é no início de junho, mas o bicho tem quase 600 laudas. Como eu já falei, provavelmente vai ser a maior tradução do ano.
Comecei tradução de um quadrinho novo. Vamos chamar de PROJETO TAURUS. Rendi 127 páginas, quase metade do volume. Ajuda que eu já conheço a história relativamente bem. Queria muito falar mais, e vou falar quando deixarem.
Comecei a tradução de outro Omnibus e já fiz 78 páginas. Esse é um pouco mais arrastado, embora tenha pressa. Vamos chamar de PROJETO GOLFINHOS.
Também rolou uma manhã em que não traduzi nada porque fiquei de papo por telefone com um quadrinista que eu fui convidado a editar - vou chamar de PROJETO PIXO - e porque tive que gravar vídeos para a LabPub.
Aliás, estava mais do que na hora de falar que tem inscrições abertas para dois cursos meus na LabPub: o CURSO PRÁTICO DE TRADUÇÃO DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (Turma 3), que começa em 11/6, e o CURSO PRÁTICO DE TRADUÇÃO DE LIVROS (Turma 10), que começa em 16/7. Todos os detalhes nos links.
Os links abaixo são de trabalhos meus que foram lançados há pouco ou serão lançados em breve. Comprar pelos links da Amazon me rende uns caraminguás. Se puder, use os links.
As datas podem mudar a qualquer momento e eu não tenho nada a ver com isso.
em abril
LADRAS, Lucie Bryon, risco [tradução minha e de Ilustralu]
ROAMING, Mariko Tamaki e Jillian Tamaki, nversos [tradução minha e de Ilustralu]
CONAN, O BÁRBARO 2, Jim Zub, Roberto de la Torre, panini
LÚCIFER: EDIÇÃO DE LUXO VOL. 3, Mike Carey, Peter Gross, Ryan Kelly, Dean Ormston, Craig Hamilton, David Hahn, Ted Naifeh, panini
O UNIVERSO DE SANDMAN: PAÍS DOS PESADELOS vol. 2, James Tynion IV, Leandro Estherren, Patricia Delpeche, Maria Llovet, panini
VAMPIRO AMERICANO: EDIÇÃO DE LUXO VOL. 5, Scott Snyder, Rafael Albuquerque, Tula Lotay, Francesco Francavilla, panini
SANDMAN APRESENTA VOL. 10: BRUXARIA, James Robinson, Peter Snejbjerg, Michael Zulli, Steve Yeowell, panini
CHEW: O SABOR DO CRIME VOL. 4: RECEITAS DE FAMÍLIA, John Layman e Rob Guillory, devir
em maio
A MANSÃO HOLLOW, Agatha Christie, harpercollins brasil
O GATO PETE E OS BOLINHOS DESAPARECIDOS, James Dean e Kimberly Dean, harpercollins brasil
CONAN, O BÁRBARO 3, Jim Zub, Dale Eaglesham e outros, panini
STRANGER THINGS: KAMCHATKA, Michael Moreci e Todor Hristov, panini
OS INVISÍVEIS EDIÇÃO DE LUXO vol. 1, Grant Morrison, Steve Yeowell, Steve Parkhouse e vários, panini
A BRIGADA DOS ENCAPOTADOS, K.W. Jeter, John K. Snyder III, Dave Louapre, Dan Sweetman, Alisa Kwitney, Guy Davis, John Ney Rieber, John Ridgway, panini
SURFISTA PRATEADO: LIBERDADE [EPIC COLLECTION], Stan Lee, John Byrne, Steve Englehart, Marshall Rogers, Joe Rubinstein, Joe Staton, Jack Kirby e outros, panini
KULL: A ERA CLÁSSICA VOL. 2, Roy Thomas, Don Glut, Gerry Conway, John Severin, Marie Severin e outros, panini
POR ORDEM DOS PEAKY BLINDERS, Matt Allen, culturama (em novo formato)
em junho
LORE OLYMPUS VOL. 4, Rachel Smythe, suma
CONAN, O BÁRBARO: A ERA CLÁSSICA VOL. 8, James Owsley, Val Semeiks, Geof Isherwood e outros, panini
Traduzi a história que deve ser minha preferida do Conan, “Heku”, para o CONAN OMNIBUS VOL. 8. Na introdução do volume, escrita pelo roteirista James C. Owsley, descubro que ele se inspirou em LOBO SOLITÁRIO. Ainda estou atropelado pela informação. O Omnibus está em pré-venda (mesmo que eu não tenha acabado de traduzir).
vem aí
SHORTCOMINGS, Adrian Tomine, nemo
HOW TO e WHAT IF 2, Randall Munroe, companhia das letras
KRAZY & IGNATZ VOL. 2: 1919-1921, George Herriman, skript
SENHOR DAS MOSCAS, Aimée de Jongh, suma
O ABOMINÁVEL SR. SEABROOK, Joe Ollmann, quadrinhos na cia.
SAPIENS VOL. 3, David Vandermeulen e Daniel Casanave, quadrinhos na cia.
MINHA COISA FAVORITA É MONSTRO 2, Emil Ferris, quadrinhos na cia.
COMIC BOOKS INCORPORATED, Shawna Kidman
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS e ATRAVÉS DO ESPELHO, Lewis Carroll
mais BONE de Jeff Smith (e amigos), todavia
+ Adrian Tomine
+ Tom Gauld
+ Dan Clowes
+ Shaun Tan
+ Will Eisner
+ Guilherme Karsten
+ Oliver Jeffers
+ Mac Barnett
+ Gato Pete
+ Mike Birchall
Todas as minhas traduções: ericoassis.com.br
A exposição do Chris Ware em Pordenone, Itália. Imagens roubadas do Benoît Peeters. Infos sobre a exposição aqui.
Meu trecho preferido de A GUERRA DOS GIBIS, de Gonçalo Junior. Acabei de reler, na nova edição da Conrad. Que pesquisa sensacional, que texto excelente.
Hoje é o aniversário da melhor fã de Scott Pilgrim do planeta. Que tem falado mais comigo por quadrinho do que com a voz. Queria mais da voz, mas não quero ficar sem esses quadrinhos.
Você leu a virapágina, newsletter de Érico Assis. Sou jornalista e tradutor, e escrevo profissionalmente sobre quadrinhos desde 2000. Publiquei dois livros: BALÕES DE PENSAMENTO 1 [amazon] e 2 [amazon]. Tem mais informações no meu website ericoassis.com.br.
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Que você vire ótimas páginas até a semana que vem.
Erico, você é detestável. Queria eu ter pensado neste artigo do Ziraldo. Parabéns, belíssimo trabalho.
Que textos maravilhosos, Érico!
Uma importante iniciativa de preservação e transmissão da história do quadrinho brasileiro.
Não sei se será possível por conta dos direitos autorais das páginas, mas torço pra que esses textos estejam presentes em volumes futuros do Balões de Pensamento.
Um grande abraço!