Uma das coisas que eu acho mais esquisitas no mercado editorial: os livros que eu traduzo e a editora não publica.
Na minha carreira de tradutor, já contei trinta, entre livros e quadrinhos. Em todos os casos, fui contratado, entreguei no prazo, fui pago e nunca mais se falou no livro.
Não acontece só comigo, acontece com todos os tradutores. Pode ser que existam por aí mais traduções de livros e quadrinhos para o português brasileiro do que nossa parca imaginação dá conta. Que nunca saíram e nunca sairão.
Por que isso acontece? Já tentei tirar essa dúvida com editoras e editores. Tem várias explicações. Pode ser porque a editora se desencantou com o livro ou o quadrinho no meio do processo e acha que não vale mais a pena publicar. Ou porque rolou algum imprevisto com os direitos; nem deviam ter passado para a tradução. Ou entraram outros livros na frente no cronograma da editora, aí aquele ficou para trás, ficou para trás e ficou para trás até que não valia mais a pena publicar.
Mas a editora pode pagar ao tradutor – e às vezes esse pagamento não é pouca coisa – e depois esquecer do livro? Tipo, aquele dinheiro que se investiu na tradução foi um investimento jogado fora? Pois é.
Mas essa parte da grana se justifica quando você sabe que o investimento na tradução é sempre menor do que o investimento no resto do processo para colocar um livro no mercado. Depois da tradução, ainda tem preparação, revisão, diagramação/letreiramento, as horas do editor. E não existe pagamento de tradução mais caro que o boleto da gráfica. Pagou-se a tradução, ok, mas vale a pena pagar todo o resto para esse livro ou gibi chegar na rua? Pode ser que não.
Outra situação que já aconteceu comigo algumas vezes: editora X me contrata para traduzir um livro ou quadrinho, entrego a tradução, ela não é publicada. Ok. Anos depois, vejo alguma editora anunciando o mesmo livro ou quadrinho – com outra tradução. Esquisito, mas acontece.
Queria contar alguns desses causos aqui. Como eu tenho vários, vai ser uma sessão recorrente da virapágina. As traduções que nunca aconteceram – ou melhor, as traduções que aconteceram, que eu fiz, eu revisei, eu li e não sei se mais alguém leu. Dá para dizer que começou com a virapágina 28, quando falei da minha tradução de Duna que nunca vai aparecer. Tem outras. Vamos às outras.
Me Cheeta: my life in Hollywood, a autobiografia de Chita, o parceiro chimpanzé dos filmes do Tarzan.
Isso mesmo: a autobiografia do chimpanzé.
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